sexta-feira, 24 de abril de 2009

Brasil, o país das "Malcom"

Sabemos que o Brasil é um país de diversidades. Diversas raças, diversas culturas, diversas classes sociais, e como não poderia faltar, diversos grupos de indivíduos identificados por determinada característica singular. É nesse grupo que encontramos as "Malcom".
O grupo das "Malcom" é composto apenas por mulheres, já que o correspondente masculino recebe outro nome e tem características peculiares, que não são o assunto deste texto. Essas mulheres, têm idade variando entre 15-75 anos, sendo sua grande concentração encontrada na faixa dos 40-55 anos. O estado civil predominante é "casada", porém não podemos excluir as viúvas e as solteironas, tipos bastante característicos da classe.
Temos "Malcoms" atuando nas várias áreas profissionais. Mas sabemos do tropismo desta classe pelas repartições públicas, bancos, diretorias de escolas, e hospitais. Podemos também encontrá-las nos cursos livres de pintura em porcelana, ponto de cruz, francês e culinária. Podemos nos deparar também com alguns espécimes na profissão favorita das "Amélias" do Brasil: as "do lar".
O tipo físico predominante tem características patognomônicas: baixinhas, gordinhas, hirsutas, cabelos ressecados, sobrancelhas grossas e seios abundantes. É claro que há exceções...
As "Malcom" costumam usar óculos de leitura pendurados por uma correntinha dourada ou de pérolas falsas. O cabelo é pintado, na maioria das vezes e há sempre uma raiz branca aparecendo. Usam muitos colares tipo bijou, coloridos e trançados entre si. A maquiagem é excessiva e sempre incompatível com a ocasião. Preferem roupas largas, de seda ou crepe, geralmente em tom pastel. A roupa íntima é invariavelmente bege e do tipo "calçola". Muitas usam anáguas. O lencinho bordado na bolsa é presença quase obrigatória.
No que se refere ao lazer, encontramos muitas Malcom em shoppings, matinês de cinema no Largo do Machado, cabeleireiros, igrejas, mesas de "biriba", bingos, cafeterias tradicionais, aulas de hidroginástica, chás beneficentes, pet shops, supermercados, e pasmem...em consultórios médicos. Isso mesmo...ir ao médico é o lazer favorito da maioria delas.
No consultório médico, o comportamento é quase uniforme, independente da especialidade em questão: são poliqueixosas, com dores que migram de um lugar para outro, dormências, cefaléias crônicas, hálux valgo, doenças da tireóide, depressivas, obesas, com frequentes dores no peito, asmáticas, com micoses nas unhas, cálculos renais e biliares, labirintite, fadiga, logorréicas e insones. Muitas vezes possuem sintomas e sinais de difícil correlação anatômica ou fisiológica, tipo: nó na barriga, ovo na cabeça, cólica no tornozelo, "estralos" difusos ao acordar, coração que pára de "respirar" à noite, dentre outros mais bizarros. São facilmente identificadas logo na chegada aos consultórios e clínicas, pois vêm sempre com uma sacolinha de exames bastante recheada, com no mínimo uma Ressonância Magnética e um exame de Sangue. Possuem múltiplas receitas dos vários profissionais antes consultados, sendo todos incompetentes. Conhecem todos os medicamentos, já usaram vários e nenhum adiantou, ou então são alérgicas...Há também os medicamentos que abaixam muito a pressão, provocam cólicas, tiram o sono, ao contrário do que é previsto em suas características farmacológicas.
Por fim, o diagnóstico sindrômico é sempre o mesmo para todas as variações descritas..."Síndrome de Malcom". O tratamento não tem mistério, e é fornecido gratuitamente na maioria das vezes (há quem prefira pagar). O problema maior é que as próprias "Malcom" rejeitam o tratamento em sua forma completa, ficando sempre insatisfeitas e agravando a síndrome a cada tentativa de um novo "medicamento". Nestes casos cronificados, lançamos mão dos antidepressivos, benzodiazepínicos, analgésicos e anti-eméticos. Trata-se de um tratamento sintomático e com taxas altas de insucesso, levando a maioria das "Malcom" a solicitar atestados médicos e declarações para perícia, a fim de se "encostarem pelo INPS".
A cada dia que vivo e ando por esse Brasil afora, me deparo com mais e mais mulheres contaminadas pela síndrome. O índice de crescimento das taxas de morbi-mortalidade vem assustando a população não acometida pela doença, já que esta é que sofre com os surtos de irritabilidade e má vontade das mulheres acometidas. Temo que até 2010, 2/3 da poulação feminina do país esteja contaminada por alguma forma da doença, o que seria uma enorme tragédia no que diz respeito às relações sociais e profissionais inerentes ao nosso dia a dia.
Confesso que por várias vezes já me peguei pensando em uma solução definitiva para tal síndrome, mas no fundo, sei que a mesma não está nos livros...a solução está em levar uma vida saudável na esfera conjugal, seja em uma simples "ficada" ou em um casamento beirando as bodas de prata ou de ouro. No momento em que a mulher "Malcom" estiver aberta para reconhecer seu parceiro ideal e se render aos caprichos de uma boa noite sexo, não importando a frequência, creio que a incidência da síndrome diminuirá vertiginosamente.
Em suma, a solução é literalmente "Relaxar e Gozar"!!!