Rivotril, ou Clonazepan, é um medicamento da classe dos benzodiazepínicos, portanto, tem sua venda restrita, vinculada à apresentação de "receituário" azul, como é conhecido popularmente. Sua ação e principal indicação seria nas epilepsias, porém, devido ao seu efeito miorrelaxante e sedativo, passou a ser um dos medicamentos de escolha para tratamento de algumas outras entidades clínicas e psiquiátricas...e com excelentes resultados. É vendido nas dosagens de 0,25mg ; 0,5mg ; 2,0mg , sendo o preço bastante acessível.
Na minha prática médica, em consultório, observo que aumenta a cada dia o n° de usuários de benzodiazepínicos, em especial, o Rivotril. Na maioria das vezes, indicado pelo vizinho ou um familiar que faça uso. Ou seja, o número de pacientes usando a droga sem indicação precisa é imenso. Todos apresentam uma justificativa própria, que julgam ser suficiente para acobertar a falta de responsabilidade e critério. Tento em vão demovê-los da idéia de que um comprimido vez ou outra vai reestabelecer o equilíbrio que tanto procuram. O máximo a fazer é me negar a fornecer a receita para que possam comprar o medicamento. No fundo, sei que conseguirão com algum colega desavisado ou "mais generoso"que atende na próxima esquina.
O uso dos benzodiazepínicos, particularmente o Rivotril, não se restringe a pacientes em tratamento psiquiátrico. Usa-se também para outras patologias, de ordem clínica, onde verifica-se algum grau de ansiedade, distúrbios do sono ou sintomas depressivos, quando podemos associá-lo a outras classes de medicamentos.
O fato é, amigos, que a "tarja preta" já foi fator de preocupação e de limitação há alguns anos atrás. Hoje virou moda. Se você não é usuário de um "tarja preta", é tido como cafona...fora dos padrões da nossa realidade. Hoje vale mais o vício em uma droga permitida pela nossa lei, do que uma boa terapia ou até uns dias de férias na praia ou na serra. É mais fácil tomar um comprimido, do que sentar e dialogar com a esposa/marido ou com os filhos. É mais fácil tomar um comprimido, do que argumentar com seu chefe no trabalho.
A verdade é que o Rivotril, e outros da mesma classe terapêutica, são hoje usados por qualquer motivo: Me aborreci: Rivotril! ; Não consigo dormir: Rivotril! ; Meu time perdeu: Rivotril! ; Meu filho ainda não chegou da rua: Rivotril! ; Meu salário está atrasado: Rivotril! E por aí vai...são inúmeras as situações que "justificam" o uso constante do medicamento...Devo admitir que é uma solução prática sim, porém aonde fica nossa capacidade de dialogar, argumentar, conduzir uma situação adversa com tranquilidade e bom senso? Aonde fica a nossa fé, seja ela qual for, para nos ajudar a seguir em frente? Aonde ficam os bons livros que poderiam estar sendo lidos nas noites de insônia, que são comuns a todos nós?
Amigos, devo dizer que nada tenho contra o Rivotril, posto que sou usuária antiga(sob prescrição médica) deste medicamento. Apenas faço um apelo para que o uso indiscriminado não se torne uma rotina cotidiana, para que as consequências não apareçam cada vez com mais frequência em nossa sociedade.
Houve um tempo em que éramos a "Geração Prozac". Hoje somos a "Geração Rivotril". Será que não merecíamos um rótulo mais bonito?